quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Último Dia

Hoje é o aniversário do Dindi - que aliás, começou ontem. E começou com as despedidas oficiais... não com as despedidas de cada cidade ou país que nos acostumamos nos últimos tempos, mas com a despedida do continente que nos acolheu no último ano.
Não foi fácil sair do Brasil há um ano, mas não é tão fácil sair daqui agora. Estamos morrendo de saudades da nossa família, amigos, de tantos lugares, músicas (ah, o Terça Nobre que nos aguarde), sabores... mas despedidas são sempre difíceis. E, apesar da experiência que venho acumulando, fazer as malas é sempre árdua tarefa.
Em dois dias estaremos em Belo Horizonte. Ele estará um ano mais velho, mas parece que tanto se passou desde que nos despedimos de todos em Boa Esperança em agosto do ano passado que eu acreditaria se me dissessem que ao invés de 27 ele vai completar um pouco mais.


ele envelhecendo...
...e ela, criança

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

preparação para a comilança

Um ano fora do Brasil e eu juro que não sofri com coisas que todo brasileir@ sofre quando está longe de casa. Vivi bem sem comer arroz com feijão todo dia, (aliás, aqui só comemos feijão enlatado que ficava gostoso e tudo, mas estava longe de ser a mesma coisa), couve, palmito, açaí, pastel, farofa, caldo de cana... É claro que às vezes dava vontade, mas passava rápido.
Hum... delícia!
Agora, com as malas prontas (e isso não é uma metáfora, já estão 99% prontas mesmo) estou morrendo de vontade de comer tudo! Ontem lembrei de como, por exemplo, palmito é uma delícia e quase tivemos um ataque! Aí, já viu... só comendo alguma outra coisa muito gostosa para esquecer. Ele atacou uma caixa de chocolates e eu...

sábado, 27 de agosto de 2011

...quando voltarmos...

Há muito pouco tempo da nossa volta - aliás, pouquíssimo - a todo momento algum de nós começa uma diferente frase que sempre começa da mesma forma:  "quando voltarmos para o Brasil..."
E as mais diversas ideias e planos passam pela nossa cabeça, a todo momento. Começar a valorizar mais as pequenas coisas, comer mais em casa, mudar de cerveja, ter vasinhos de flores para colocar na sala da casa que ainda não temos. Planos com relação a pessoas, a coisas, a atitudes.
"...quando voltarmos vamos comprar duas bicicletas..."
Sem dúvidas, mudamos muito com todo o processo dessa viagem. Acho, mudamos para melhor. Hoje consigo olhar para as coisas ao meu redor e pensá-las em suas devidas proporções. Sem sofrer por aquilo que não merece. Sem dar um valor indevido a uma coisa em si. Aliás, que triste são as coisas quando consideradas em si mesmas.
Comecei um texto sobre os inúmeros planos e expectativas que andam por nossas cabeças nos últimos dias e terminei dando uma grande volta. Em Amsterdam, sem a menor dúvida a cidade mais vibrante e bonita que já conhecemos, difícil não imaginar como tudo vai estar / ser quando voltarmos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dublagem

De volta a Berlim depois de 11 horas num ônibus polonês. Quatro filmes dublados. Sabem como é ouvir a mesma voz 11 horas seguidas? Pois é, não é só em Portugal que existem "coisas de Português". Aliás, o tipo de dublagem que é feito na Polônia supera todas as brilhantes ideias que Manuel e Joaquim já devem ter tido na vida!

Entenderam? Só existe uma voz para todos os personagens! Detalhes importantes: o tom da voz é sempre o mesmo (não importa se a frase no filme é dita de forma sensual, histérica ou se é só um sussurro). A voz utilizada nas dublagens também é sempre a mesma. Ou seja: esse moço aí é conhecido de longa data por qualquer ouvido polonês.
Dá para entender? Apesar do desconforto da longa viagem, chegamos sãos e salvos em Berlim. Mas tive pesadelos com essa voz.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O trompetista de Cracóvia

O Hejnal é uma melodia simples, de somente 5 notas, que data do século XIII, tocada do alto da basílica de Santa Maria (a Mariacka). Nos tempos medievais, o tocador avisava sobre a abertura e fechamento dos portões da citadela. Hoje, 24 vezes ao dia ele a toca para avisar da passagem do tempo. Uma melodia dramática com uma inconclusão abrupta. Causa arrepios no centro da cidade velha, na praça do mercado. Dá pra sentir o drama histórico dessa cidade maravilhosa que é Cracóvia. Um dos trompetistas disse uma vez que nunca conseguiria tocar nenhuma outra melodia senão a Hejnal.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

um lar na Polônia

Depois de tanto tempo "morando" em hotéis e, mais ainda, depois de tanto tempo sem ter um lar só para nós dois - já faz mais de um ano desde que devolvemos a chave do apartamento que durante três anos chamamos de nosso - lembramos como é ter um lar.
Graças aos baixíssimos preços da Polônia, reservamos um hotel de luxo sem saber que o fazíamos. Detalhe importante: pagando a mesma quantia que pagamos durante toda a viagem para ficar em hotéis/albergues bem maomenos. Ah, e também não nos demos conta quando fizemos a reserva que, ao invés de "hotel" estava escrito "apart-hotel".
Por sorte (ou destino?) tudo isso aconteceu nas últimas semanas de nossa viagem. Escrevo do que, conclui, ser o apartamento dos meus sonhos. Pequeno, moderno, mas simples e com tudo que precisamos dentro.
Cheguei a concordar com ele de que morar em um hotel deveria ser ótimo. Mas, desde que entramos no apart-hotel voltei atrás com tudo. Não me lembrava como era ter uma sala, uma cozinha. Ou melhor, nada como ter um lugar para chamar de lar. Só temos mais três semanas. Estou triste porque nossa viagem vai acabar, pois tudo tem sido maravilhoso, mas estou com saudades das pessoas que amo.
Agora, também estou com saudades de um lar que vamos voltar a ter.
Café da manhã

No sofá da sala - se a gente pedir muito, será
que alguém deixa a gente ficar?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

No leste europeu

Muitas têm sido nossas aventuras desde que saímos de Dublin. Cruzamos o continente velho, de Lisboa até Cracóvia na Polônia. Passamos por Frankfurt e Dresden, a cidade que foi totalmente reconstruída após a segunda guerra. Estamos em Cracóvia desde domingo à noite, depois de cruzar a Alemanha de trem. Mas de todas as as experiências por que temos passado nesses quase quatro meses na estrada, a de ontem foi a de mais impacto, a mais chocante e inesperada. Quase duas horas de trem de Cracóvia, a cidade de Oswiecim passa despercebida se não fosse seu nome alemão, Auschwitz. Antes da invasão germânica na Polônia, a pequena vila de Oswiecim  ainda não conhecia os limites da crueldade. O antigo campo hoje abriga um museu que serve de alerta aos terrores da guerra. O mais chocante é caminhar pelo segundo complexo, conhecido como Birkenau (Auschwitz II). Lá a estrutura do antigo campo de concentração ainda se mantém, como os trilhos do trem que trazia os judeus de vários lugares da Europa, as ruínas das câmeras de gás e do crematório, e cinzas humanas. Foram horas de caminhada pelo campo. As toneladas de cabelos e os objetos pessoais encontrados durante a liberação do campo pelos soviéticos, expostas em Auschwitz I, são tão chocantes quanto o paredão onde poloneses, judeus, prisioneiros de guerra e homossexuais eram fuzilados. 
Os trilhos que levavam os judeus deportados direto para a câmera de gás em Auschwitz II.

A entrada de Auschwitz I, com a frase cínica "Só o trabalho liberta".
O caminho de volta a Cracóvia foi tomado pelo silêncio dos dois. O silêncio que até agora me causa medo. Visitar Auschwitz foi uma experiência inesperada e aterrorizante.