quarta-feira, 28 de março de 2012

"kefi"

Ontem, no meio de uma tarde sem muitas atividades, acabamos vendo um filme chamado Falando Grego (My life in ruins, título original). No início parecia razoável, algumas piadas engraçadinhas aqui ou ali. Mas a quantidade de esteriótipos de todo tipo foi aumentando em progressão geométrica e minha paciência - que não tem sido a maior do mundo nos últimos tempos - foi se esgotando.

Em quase todos os quarteirões do Monasticari, em Atenas, existe uma mesa
 na calçada com um grupo de homens jogando e bebendo café gelado.
Mas a síndrome de Poliana (que às vezes insiste em me atacar) fez com que eu encontrasse alguns pontos positivos na dita película. Um deles foi ver certos cenários da Grécia, que parecem ser montagens feitas para o cinema... Outro, foi relembrar o jeito dos gregos que, talvez por lembrarem um pouquinho os brasileiros, fizeram com que nos sentíssemos tão bem durante nossa estadia por lá.
O entusiasmo e a paixão que alimentam o espírito dos gregos é chamado de kefi. Se você não é uma pessoa, digamos, dionisíaca... você não tem kefi ou ainda não o encontrou. A música, a dança, a boa comida, uma pausa no trabalho para um bom café... coisas importantes para um grego que se preze e que queira manter sempre aceso seu kefi.


Música e dança grega.

Sempre pode ser uma boa hora para aproveitar a vida. Eis o kefi!

quinta-feira, 22 de março de 2012

os banhos húngaros

Abastecendo a garrafinha em um dos muitos
"bebedouros públicos" da cidade.
A água vem direto da fonte!
O território húngaro fica exatamente "em cima" de um enorme reservatório de água quente. Como melhor aproveitar essa sorte invejável? Fácil: fazendo piscinas e mais piscinas de água quente e natural. E as  muitas das milhares de nascentes, além de diferentes temperaturas, ainda têm propriedades medicinais - reconhecidas e controladas pelo Ministério da Saúde de lá.

As chamadas "casas de banho" que existem há séculos no país são isso. Esse hábito tão antigo deu à Budapeste o título de cidade do banho e do spa. Passamos uma tarde em uma das maiores da cidade. Acho que foi simplesmente uma  das tardes mais divertidas da minha vida!

Dentro de um enorme parque de Peste, fica o Banho Széchenyi. O prédio amarelo mostarda do início do século XX já vale uma visita. Esse banho combina os enormes corredores com pequenas piscinas de origem romana e a sala com vapor e duchas de água fria de origem turca.

Vista geral da casa de banhos. Dentro do prédio estão as piscinas cobertas, saunas,
a área para banho (precisa?) e o vestiário. A setinha mostra onde fica um tabuleiro de xadrez!

Três enormes piscinas ficam ao ar livre e perdi a conta de quantas são cobertas. Todas as piscinas são abastecidas com água natural e, ao lado de cada uma delas, existe uma placa com a temperatura da água (frisando: a temperatura da água também é natural!) A primeira piscina coberta era pequena e redonda e... a temperatura da água era de 34º! Nos primeiros minutos deu uma tonteirinha, mas foi passando.

Uma das primeiras piscinas cobertas e super quentes que testei.
Deu uma tonteirinha, mas foi tão difícil de sair...
Na "última parte" coberta ficam duas pequenas piscinas, uma bem perto da outra. Antes de ver a temperatura de cada uma, reparei que várias entravam em uma e não ficavam nem um minuto antes de ir para a outra. Pasmem! Temperaturas das piscinas: 20º de um lado e 40º do outro! Os juninhos aqui não encararam o choque térmico - e o pessoal da terceira idade que estava lá firme indo de uma piscina para a outra riu demais da nossa falta de coragem! O choque térmico fica para a próxima, mas testamos os 40º. Nem parece verdade, mas dois graus a mais ou a menos fazem uma diferença enorme!
Plaquinha avisando sobre a temperatura da água.
Tradução do húngaro: "é quente mesmo"!

Também é na área coberta que ficam as saunas. Outra coisa que eu não sabia era que existiam tantos tipos de saunas. Fomos em saunas secas, a vapor, com aroma, com luzes terapêuticas e com fogo! A temperatura desta última ultrapassava os 100º e, mais uma vez, os juninhos aqui não deram conta. Saímos com a mesma rapidez que entramos.


Detalhe em uma das paredes internas do prédio.
Definitivamente, ir em Budapeste e não ir em alguma casa de banhos, deve ser mais grave do que vir para Minas e não comer pão de queijo...

Um dos ângulos da área externa da casa de banhos.
Felizmente, os dias de verão são muito longos na Hungria.
Um belo entardecer às 9h da noite.

E outro ângulo da área externa.
Uma das pessoas  de costas sou eu.

Onde ficam os banheiros, armários e vestiários.
E a triste hora de ir embora...

domingo, 11 de março de 2012

pão de queijo internacional

Quando morávamos fora do Brasil, todos sempre perguntavam se não estávamos morrendo de saudades das comidas daqui - principalmente, porque somos de Minas, um estado com uma culinária para lá de peculiar. Aliás, compramos um guia do Brasil feito para gringos e eles dividem a comida brasileira em quatro grupos: culinária amazônica, gaúcha, baiana/nordestina e mineira!
Acho que nunca morremos de tanta saudade por dois motivos muito simples. O primeiro deles é que somos muito adaptáveis, sem muitos hábitos tão arraigados. Posso passar meses (talvez até anos) sem comer arroz com feijão sem ficar em nada abalada. O outro motivo é que, quando morávamos em Dublin, sempre comíamos em casa. Assim, quando dava vontade de comer alguma coisa, era só fazer! 
Uma das pouquíssimas coisas que nos fez ficar aperreados, foi a falta de pão de queijo. As lojas de produto brasileiro vendiam a massa pré-pronta da Yoki, mas definitivamente... não foi aprovada. Nossa vida mudou quando nossa querida amiga Áurea compartilhou uma receita adaptada para os produtos disponíveis no mercado europeu. Essa semana repeti a receita para relembrar desse gostinho delicioso que tanto nos salvou quando o banzo insistia em chegar...
Então, resolvi compartilhar! E já aviso mesmo para os paladares mais tradicionais: a receita é nada convencional, mas o resultado é ótimo! 
A parte mais difícil é saber qual queijo usar para substituir o queijo minas. Na Europa existe um queijo muito comum na Irlanda e no Reino Unido, chamado Irish Cheddar. Apesar do nome, ele nada se parece com o cheddar que conhecemos e lembra bastante alguns tipos de parmesão (mas bem menos "ácido"). Então, lá vai:
- 500g de matured irish cheddar (é claro que no Brasil a receita é feita com o ingrediente mais importante: uma peça de queijo minas curado)
- 500g de polvilho doce (uma passadinha nas lojas de produtos brasileiros é indispensável!)
- 4 ou 5 batatas médias
- 2 ovos
- 200g de iogurte grego (tem uma consistência entre o iogurte e o creme de leite e é delicioso. Para fazer a receita no Brasil, substituí por iogurte natural - pouco menos de um copinho).

** Descasque e cozinhe as batatas com sal. Depois de cozidas, retire e amasse com um garfo. Misture às batatas o queijo ralado, os ovos e o iogurte grego. Mexa até a massa ficar homogênea. Depois, vá acrescentando o polvilho aos poucos. Faça as bolinhas e asse no forno pré-aquecido até dourar. O pão de queijo fica "rendado" por dentro e com uma casquinha bem crocante embaixo. Então... deliciem-se!
Nosso companheiro, onde quer que estejamos.
Eu gosto mais queimadinho, então sempre deixo uns minutinhos a mais no forno.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Os Noturnos

Antes de irmos para a Itália em Maio, ainda no frio de Dublin, comecei a ouvir incansavelmente os Noturnos de Chopin gravados pelo Nelson Freire. Eu não sabia que viria a ser a trilha de minhas lembranças de Cracóvia e Varsóvia. O post sobre Chopin me lembrou do Trompetista de Cracóvia e como ele soava toda a melancolia e a dor que inevitavelmente sentíamos ao reler a história da Polônia. Sem dúvida minhas memórias vêm à tona sempre que ouço meu Noturno preferido, que sem dúvida virou o tema mais vívido de nossa passagem pela Polônia


quinta-feira, 1 de março de 2012

ao coração de Chopin

Depois que se conhece um lugar, não interessa onde ele seja, tenho a impressão de que sempre ficamos mais atentos ao ouvir qualquer coisa que se fala sobre tal lugar. E, talvez devido a essa atenção extra, a cidade/país/monumento até então completamente desconhecido parece se tornar sempre uma das manchetes da vez.
Mais do que isso, quase me assusta o quanto é comum ver na TV lugares em que já estivemos. E sempre me sinto revivendo um pouco o que vivemos ao rever uma "paisagem" por outros ângulos e olhares...
E, de todos os lugares por onde já passei, Varsóvia é a cidade que mais respira história. Em cada quarteirão vê-se uma homenagem, uma placa, uma bandeira, uma estátua, um nome gravado. Infelizmente, grande parte de toda essa história é marcada pelos horrores da guerra, mas também por eventos incríveis de força e patriotismo dos poloneses.
Na semana passada, assistimos um documentário sobre o Chopin - um dos mais famosos poloneses de todos os tempos. E foi ótimo relembrar nossos dias em Varsóvia! Só então me dei conta de que há muito tempo quero escrever sobre isso e só agora me desenrolei. Mas sempre é tempo...
Frédérich Chopin nasceu em Varsóvia e lá viveu até os 20 anos. Em 1830, mudou-se para a França com sua família para fugir da guerra entre Polônia e Rússia (esse acontecimento é conhecido como "A grande emigração", devido ao grande número de pessoas que deixou o país). Chopin nunca mais retornaria à Polônia, mas nunca deixou de pensar em seu país e muitas de suas composições foram inspiradas em danças polonesas típicas.
Casa onde a família Chopin viveu de 1827 a 1830.
Atualmente, um museu dedicado ao compositor.
Um dos "trajetos" turísticos recomendados em Varsóvia  é completamente dedicado a Chopin (Fryderykowi Chopinowi, em polonês). E, em todos os pontos da cidade que fizeram parte da vida do músico existe um banco "especial". Além de contar uma parte da vida de Chopin, ele toca o trecho de alguma música quando você aperta um botão. Fiz um vídeo que, apesar da qualidade duvidosa, (não ficou muito bom, mas fiz o melhor que pude!) mostra a ótima ideia. Esse banco fica em frente a casa da foto acima, em uma das mais famosas ruas da Polônia, a Krakowskie Przedmiescie. 



Poder, de repente, ouvir um pouco de Chopin é como ter um minuto de paz em meio a agitação de uma cidade grande. Há poucos metros da antiga casa da família Chopin está localizada a Igreja da Santa Cruz.

Fachada da Igreja da Santa Cruz, na Krakowskie Przedmiescie.
À frente, "cubo" com representação original da igreja.

Nessa igreja foi enterrado o coração de Chopin, que morreu em Paris aos 39 anos. Atendendo à vontade do compositor, após sua morte seu coração foi retirado e levado em uma pequena urna para Varsóvia. Ele foi "incorporado" em uma das pilastras da nave central da igreja e recebeu a inscrição de um trecho da bíblia escolhido por Chopin:

"Onde seu tesouro está, também estará seu coração."

Pilastra da Igreja da Santa Cruz,
onde está o coração de Chopin.


Durante a Segunda Guerra Mundial, a urna foi retirada da igreja e guardada em outro local. E, assim como praticamente toda a cidade de Varsóvia, a Igreja da Santa Cruz transformou-se em um amontoado de ruínas... Com a sua posterior reconstrução, o coração de Chopin voltou "para onde está seu tesouro..."

E, ao coração de Chopin, que hoje completa exatamente 202 anos, nossa muito singela homenagem.


Rua Krakowskie Przedmiescie e um dos "bancos musicais".
Ao fundo, o prédio da Universidade de Varsóvia.