segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Braganino

Ontem matando a saudade de assistir a um jogo de futebol com meu pai que, por sinal tem dito ter abandonado o futebol repetidamente a 12 anos, me lembrei de uma tarde muito engraçada em Atenas. Em todo lugar que estivemos a resposta a "você é brasileiro?" sempre vinha seguida de um desconfortante "yeah, I know Ronaldinho". Um saco. Mas no Monastikari, o bairro charmoso abaixo da Acrópole, o dono do restaurante respondeu: "yeah, I know Braganino". E olha que o time paulista do Bragantino nem sequer joga mais na primeira divisão!


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Três semanas depois

Há exatas três semanas, ainda com um pouco de ressaca de cervejas belgas, pegávamos o vôo para São Paulo. Depois de horas em ônibus poloneses, perdemos a noção do que considerar uma viagem longa. Doze horas foram rápidas, mas o tempo de espera em São Paulo para vir até Belo Horizonte, essa cidade que comecei a odiar uns meses antes de me mudar para Dublin. Continua a mesma. Após um ano fora daqui, soa inevitavelmente arrogante dizer que as grandes cidades brasileiras se tornaram inabitáveis. Belo horizonte um exemplo mor. Inevitavelmente verdadeiro também.
Em Amsterdam, bicicletas a perder de vista...
Ao fundo, o Palácio Real
A novidade é pensar no Nordeste. Piauí talvez. Um pensamento ainda distante mas deixando de ser verde, amadurecendo após três semanas que já se parecem tão longas quanto o ano que se foi. Não conseguimos ficar parados.
Rever amigos e família nos foi uma experiência incrível (e continua sendo, já que ainda não revimos todos). Mas a saudade das poucas horas de tempo bom irlandesas vêm a vão. E muitas saudades das bicicletas de Amsterdã  também...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

sobre alás e acás

Começamos uma viagem a um ano atrás e o principal objetivo era aprender uma nova língua. Aprendemos muito mais do que isso. Aprendemos - na prática - que, muitas vezes, sutis diferenças no significado de uma mesma palavra podem causar situações um tanto quanto embaraçosas.
O mineirês, que tenho sempre afiado, foi causa de algumas dessas situações. Em Istambul, onde grande parte da população é muçulmana, tive que reeducar meu português para não arrumar um problema. Depois de dois ou três dias com a sensação de que, às vezes, todos os desconhecidos olhares se voltavam para mim, matei a charada: isso sempre acontecia quando eu via alguma coisa que me chamava a atenção e compartilhava usando o termo "alá". "Alá, aquele doce que eu quero comer...", "Alá, que ponte bonita..."
"alá a gatinha que mora com os filhotes na vitrine!"
Todo bom mineiro sabe que "alá" é o mesmo que "olha lá", mas para um muçulmano Alá é o nome de Deus - que, por isso, não deve ser usado em vão. Para quem não fala português, a única parte "entendível" na frase "alá aquele doce..." é o tal do alá. E é óbvio que, por exemplo, apontar para uma comida e dizer uma palavra sagrada pode não soar tão bem.
E no meu primeiro dia em Itabira me lembrei dessa estória ao recordar um termo que, talvez, tenha surgido entre as montanhas e o ferro da cidade onde vivi por tantos anos: acá. Sem o valor sagrado de Alá (com letra maiúscula), mas com o mesmo valor simbólico do meu alá (em minúsculas mesmo), o acá é, para mim, um dos mais importantes marcadores da cultura itabirana.
Nesse um ano, acho que quase me esqueci dessa palavra que, confesso, ainda não me sinto desenvolta o suficiente para incorporar no meu mineirês. Pois é, quase. Cinco minutos de caminhada pela cidade foram suficientes para fazer com que, não só o acá, mas também sobre o jeito de ser dos mineiros. Inigualável a tudo que vimos por todos os lugares que passamos. Inigualável e imperdível!